Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Folhas Secas



Caminho de folhas secas.
Vento deus soprando sua doutrina.
Vida envelhecida, carcomida, engolida.
O poeta aprisionado em grades de sombras.
O verso, a pílula, a cinza colorida depois da janela.

Seus olhos tem a voz dos calabouços.
Seus olhos tem a cortesia dos absolutos.

Os passos seguem os reflexos do sol da manhã.
Porta fechada, motor ligado, pequenos goles de adeus.
Os passos reacendem no escuro inóspito dos astros.
Ombros cansados, bagagem do mundo, hotel do lar.
Vida servida ao cão pulguento dos enganos.

Seus gestos têm as sobras de todos os restos.
Seus gestos tem a maresia dos tributos sem fim.

Linhas desligadas, socorro mudo, conferência que não confere.
O importante é uma porta travada pelo que não importa.
E esse vício de construir o que não possui.
E essa soma que divide o que se possui.
Ampulheta sem tempo para o tempo que vale o tempo.

Seu sotaque tem a tradução dos filmes de ficção.
Seu sotaque tem a forma do cadafalso moderno.

Caminho de folhas secas.
Vou pular.
Saltar de um qualquer último andar.
Corpo lançado entre as brechas do ar.
A poesia há de me salvar.

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