Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quarta-feira, 19 de abril de 2017

O sono das margaridas




Amanheceu e teus olhos ainda dormem.
Quase tudo foi embora, mas continuo aqui.
Escondido como o sol entre brumas.
Silencioso como a queda de uma pluma sem vento.
Mágico como o asfalto emborrachado rompido pelos musgos.

A senha é incerta.
Você dorme e o dia já vai alto rasgando de luz a janela do quarto.
Tua pele úmida de água e sal.
Teus olhos vermelhos de tarde solar poente.
Teu lar nas mãos deitadas sobre a colcha macia.

Velo teu sono de feridas secas.
Sem você não tenho para onde ir.
Me pego próximo a tua distância e aguardo as margaridas brotarem no jardim.

Teus olhos fechados não vêm o vento soprando azul a vidraça.
O dia é claro e o calor exala despertar em meus poros.
A vida pede uma chance e a escuridão desce cabisbaixa os degraus do sótão.
Amanheceu e teu sono ignora o barulho lá fora.
Quase tudo fez a volta, mas continuo a esperar margaridas.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Só sei sorrir assim




Minha mão fria abre a porta do futuro.
Não enxergo aplauso e o sol nubla minha vista de nuvens.
Sinto-me só num quarto de cortinas fechadas.
Tem ópio no jarro de porcelana que adorna o corredor.
Dias chegam que o vento ameaça derrubar tudo.

O inesperado pede passagem como um trem em fuga.
Bebemos esquecimento em taças de cristais decoradas.

Você não me viu entrar,
Não me viu ficar,
Não me viu sair.

Sou este lado de escuridão sorrindo às poltronas vazias.
Não lembro onde esqueci a mim.

Em que mesa de bar?
Em que esquina vazia?
Em que lábio de menina?
Em que abraço de amigo?

Onde será que eu estou agora.