Os prédios vão crescendo ao meu redor.
É concreto sobre concreto.
A vida nas cidades é feita de acompanhamentos solitários.
Tudo é perto da distância que nos aproxima.
As coisas crescem e não se tocam.
Vamos sendo engolidos por línguas de asfalto negro.
E tudo na cidade é urgente.
É urgente o trânsito,
O trabalho,
A ida e a volta.
É urgente o dormir,
O despertar,
As roupas e os sapatos nos pés são urgentes.
A cidade se alonga em direção a epiderme cinza do seu céu nublado.
E cobre de sombras as cabeças calvas,
E cobre de sombras os cabelos longos cheirando a creme de óleo diesel,
E cobre de sombras a fala, o hálito e a dor ignorada.
Mas na cidade também tem sol.
E o sol da cidade nos faz esquecer o pranto,
A saudade,
A falta de nós mesmos,
E a morte despercebida, que nos pegará atônitos no meio de todo este susto.