Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Réquiem urbano



Os prédios vão crescendo ao meu redor.
É concreto sobre concreto.
A vida nas cidades é feita de acompanhamentos solitários.
Tudo é perto da distância que nos aproxima.
As coisas crescem e não se tocam.
Vamos sendo engolidos por línguas de asfalto negro.

E tudo na cidade é urgente.

É urgente o trânsito,
O trabalho,
A ida e a volta.

É urgente o dormir,
O despertar,
As roupas e os sapatos nos pés são urgentes.

A cidade se alonga em direção a epiderme cinza do seu céu nublado.
E cobre de sombras as cabeças calvas, 
E cobre de sombras os cabelos longos cheirando a creme de óleo diesel,
E cobre de sombras a fala, o hálito e a dor ignorada.

Mas na cidade também tem sol.
E o sol da cidade nos faz esquecer o pranto,
A saudade,
A falta de nós mesmos,
E a morte despercebida, que nos pegará atônitos no meio de todo este susto.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

De volta pra casa

Olho para mim agora.
Tanta coisa já passou.
E tudo se rasga como seda em dedos de criança.

Busco o suave que o silêncio me nega.
A umidade da retina sopra a vela do meu alto mar.
Passeio de mãos dadas indeciso no que foi,
No que é,
No que será.

Acendo vagarosamente
Uma a uma as luzes de cada cômodo.
E toda a luz não explica a minha sombra no canto.

O relógio vai parar.
Teu aceno é um adeus delicado igual final de romance eterno.
Um vagão descontrolado invade minha garganta sem voz.
Não guardei muito
E do pouco que me resta embrulhei em versos retorcidos.

Meu tropeço é minha pausa de realidade.
Prolifero minha solidão tocando lábios e labirintos.
E para onde vou não me chegam mensagens nem mapas.

Minha calça desgastada,
O violão, a caneta e a caderneta,
Versos de Bandeira,
Barba,
E liberdade.

Agora a tarde é pequena.
Não cabe mais que um dia sem sol e sem vento.
A tarde tem olhos azuis cheio da tristeza dos crepúsculos.
A tarde é minha.
E a dor da minha tarde veio do abraço que entorpeceu minha solidão.