Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Convalescência

Entrei sem bater
não havia ninguém para reclamar a invasão abrupta.

O vazio era a única companhia da febre
que tocava piano em notas suaves serenando a convalescência do corpo quieto.

Os dias iam passando enfileirados um a um.
O primeiro apresentou a rosa roxa na lapela,
O segundo perfumou o ambiente com calor nos ossos,
O terceiro redigiu com cuidado cirúrgico cada ponto dolorido,
O quarto mendigou o socorro das bombas injetáveis,
O quinto... O sexto dia plantei flores de antibióticos ao lado da cinza derramada.

O passo seguia pela casa percorrendo o frio das mesmas cerâmicas.
O isolamento no quarto vazio era fortalecido pelo silêncio que umedecia o teto branco gelo.
A tosse como o urro de um animal golpeado alertava presença à vizinhança.
A vida lá fora continuava e vinha pela tv nas palavras turvas da repórter.
A reflexão que a dor calcula sentava ao lado mastigando seu chiclete sem corante.
Os olhos avermelhados delineando a verdade impressa no espelho do banheiro.

Faltaram mãos, sobraram pés.
A dor é cara, carinhosa, é caridosa.

Faltaram eles, sobraram eu.
Com a seta, a certeza e a saída.

[Depois de cada conhaque de escuridão
aprendo a lidar melhor com o sol, com o girassol, com a solidão].