A munição com sabor de cicuta nos lábios gelados.
Todo fim é serenado de valsas de adeus.
Todo fim mastiga chicletes embebidos no álcool do que se vai.
O Ano Velho traga da sacada o cânhamo das angústias que viveu,
Rega a papoula alva que banha de pó seu olfato,
Contempla da janela do seu último andar o tempo que fugiu sem avisar.
Na vitrola o retalho da canção de despedida.
Na fotografia o sorriso congelado da chegada em noite de festa.
No horizonte a sombra nua e deslumbrante do fenecer.
A solidão é a mais doce companheira do fim.
A solidão é a sobra iluminada de todo náufrago.
O Ano Velho veste seu blusão desbotado de alegorias,
Tranca todas as janelas do mundo,
Deita em silêncio no berço de todas as escuridões.
A mão trêmula ainda toca o sepultamento dos dias alinhados em sequencia,
As noites bebidas de cinza e as estrelas deitadas numa mesma cama.
Tudo foi, não importa, fecha a porta.
Adeus, Ano Velho.
Ano Velho a deus.
Adeus amigo, para jamais.
E que leve lhe seja todos os disparos no crânio último do seu fim.