Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 28 de julho de 2018

Sobre a brevidade das flores

Hoje a tarde chorei.
De mãos abertas sobre o rosto me escondia do azul que caia do céu.
Reguei flores e margaridas murcharam quando ainda era dia.
Sozinho entre paredes nuas tudo parece finito.

É um sonho partido em cacos.
É uma tempestade nos olhos de quem amamos.
É a vida apagando a luz do quarto do nascer do sol.

Hoje a tarde corri ao esconderijo.
Chorei desabando sobre azulejos gotas de chumbo.

Chamei um nome,
Um momento,
Uma alegria escondida no tempo passou.
Parece que perdi um amigo.
Me sinto só...
Novamente só.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Cargueiros e ferrugem


Fito cargueiros aromatizados de ferrugem engolidos pela linha tênue do horizonte.
Meu olhar se perde entre nuvens carregadas.
Trago comigo muitas vidas.

A que tenho.
A que desejo ter.
A que me mastiga.
A que me cospe.
A que é e a que podia ser.

No cais tudo parece metal.
E o mar alivia o peso dos estivadores
E a dor escondida na maquiagem das meninas.

No porto aportam saudades e fugas.
A poesia que flui é metálica
E bebe maresia num bar de afogados.

Meus olhos partem neblinando nos cargueiros.
Sou cego e por isso canto.

Canto para a sereia de cabelos alvos.
Aquela que me levará em seus braços longos.
Quando a vida toda for uma coisa só.


sexta-feira, 20 de julho de 2018

A via láctea no meu óculos

A noite cai profunda nas lentes do meu óculos escuro.
A escuridão de copo na mão traz seu sobretudo de silêncio.
Ao olhar para o lado a estrada a frente se perde.
Tudo é tão transitório que quase não dá para tocar.
Do outro lado do mundo palpitam lábios e batons,
Estrelas e constelações,
Vidas se diluindo
Na alternância que a maresia entrega entre invernos e verões.

Sentado no meio do nada consigo entender o nada.

Vejo a cauda cintilante do cometa que evapora no ar.
O fogo extinto na voz que nasce e vai falecendo muda noite a dentro.
A velhice que bebe a beleza num bar frio de beira de estrada.
O debater em vão de quem busca a vela de cera da eternidade.

O céu negro abraça olhos azuis.

Se penso existo em algum lugar perdido em alto-mar.
Não estou aqui.
Não sou eu.
Existo no que penso e pensar é ilusão.
Filme com roteiro pronto marchando epiléptico para o fim.

A realidade desse mundo é uma ficção em cores de hd.
Somente o nada é real.
O nada e a escuridão profunda.
Essa que naufraga no meu óculos e me faz perceber o vazio.

sábado, 7 de julho de 2018

Fui abrir a porta pra você

Você me parece aquela paz
Que nuvens carregadas buscam
Antes de deitar em sereno e cair em tempestade.

Você me chama pelo nome
E na distância das velas em alto-mar
Consigo te ouvir e penso em voltar.

Você me lembra dias de muito sol.
Sombra aconchegada na grama,
Vento solto, cabelos leves e alegria de criança.

Você é a parte que não se parte.
A fonte que nubla os olhos dos tristes.
A mão que beijo e pinta meus lábios de batom neon.

Você é o abrigo após a queda.
Traz flores nas mãos e perfumes nas unhas.
Manda telegramas a vida que parece em forca.

Você é a minha salvação de mãos postas.
E quando a noite desce lenta, escura e densa
É você do outro lado acenando o amanhecer.