Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Argumento

O aqui chove tudo que vem de fora.
A lágrima sorri nebulosa por trás da vidraça.
Esse frio de ternura serenando eterno no lençol.
Dedos cegos tateando sob a luz de velas.

O amor é a ditadura da responsabilidade.
A hierarquia espacial do coro dos que se dizem contente.
O amor é o seu assombro de tristeza ao acender a lamparina sem dia.
É um poema longo escrito em mesa de bar por poeta analfabeto de amar.

Abaixo todos os clichês!
Abaixo a soma de todos os pensamentos definitivos!

Não me tragam a verdade em pílulas industriais.
Não me batam a porta com uma notícia que não é sua.
Não me chamem pelo mesmo nome morto de um refrão em série.
Milimétrico, calculado, encaixado nos lábios mudos e repetitivos da massa.

Há tempos a felicidade é a maior de todas as angustias.
Produzida a todo vapor no disfarce uniforme de caras e bocas dos tristes.
Só faz lembrança de felicidade quem tem necessidade de felicidade.
Essa musa vestida de latim subjugando o perecer dos fracos.

Abaixo todas as máximas!
Abaixo a adição de todas as teses sem mais discussão!

A beleza da vida é se dá por feliz com seu constante abalo.
Até alcançar o ponto neutro dele não causar mais nenhum espanto.
Nessa hora a felicidade passar a mendigar moedas no subúrbio.
E nossas orações tocam qualquer canção com a mesma alegria.

É preciso cuidado com o verme do perfume das flores.
Por isso autorizo meus versos cuspir ao lixo a água com açúcar.
Duro ou suave pertenço ao agora mesmo.
E minha taça de vinho tinto permanece cheia a brindá-lo com louvor.

Abaixo o dia sem noite!
Abaixo a reta sem curva!

Meu poema cai e levanta sem a penúria de nenhuma benção. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Páramo

Ele vestiu os mantos da paixão.
Seduziu a flor do lótus.
Despiu vestidos multicores.
Não se sabe dizer aonde foi.

Seu nome tinha pedra, ar, pétala, espinho.
Sua canção ébria com um estado terno de loucura.
Às vezes era andrajo poetizando a dor.
Às vezes era a própria dor em traje de gala.

Fantasiou amores.
Distribuiu em frascos vagabundos sua filosofia marginal sem analgésicos.
Despertou suspiros sem nunca amar verdadeiramente.

Havia mais que gestos turvos.
Mais que versos em nervos saltitantes.
Mais que meras luzes ofuscadas pelo dia.

Havia a embriaguez suave do sentir.
Havia a amizade perfeita da solidão.
E se fez filósofo em trajes de poesia.
E se fez poesia em lenços de filosofia.

Trajou-se de frio, chuva, relâmpago, trovão.
Saudou amizades com o hálito de amigo.
Depois se foi sem dizer aonde ir.
E deixou entre um trago e outro um verso apagado em todas as mesas que passou.