Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Antes do Sol Voltar

Descanso na taberna...
A névoa radioativa se fez mulher.
Feiticeira, dançarina, ninfa noturna.

O cântico foi meu devaneio mais profundo.
Não havia janelas.

A fumaça,
O álcool,
O balé,
Contaminavam o palco, o texto e os atores.

Seu olhar purpúreo drogava os espectros.
As fadas inocentes choramingavam na porta da frente.

Vozes entorpecidas entrelaçavam-se
em um ritual de devoção a algum deus profano.
O maestro em trapos coloridos reluzia as esferas de todo olhar.

Meu devaneio cintilava seus sapatos pretos
na sonoridade inconsequente daquele mórbido salão
impregnado da mais doce de todas as morfinas.


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sobre o Tempo


Com o tempo não temos mais sustos.
O coração vai simplificando os temas.
Deixamos o ponteiro correr na frente
e sentamos serenos no meio-fio de todas as escolhas.

Com o tempo aprendemos a ignorar a urgência.
A agitação feroz da vida perde a autoridade.
Concluímos que no momento em que dividimos, nós somamos
e que a força não se abriga no punho cerrado e sim, na resiliência dos dias cansados.

Com o tempo as necessidades envelhecem e morrem.
O grito de guerra se mostra um erro.
Falamos mais baixo por termos certeza
e percebemos que a rota das vitrines é o esteio do nosso vazio.

Com o tempo não há mais fuga de si mesmo.
A dor é obrigada a encontrar a cura.
Abandonamos os esconderijos sociais do parecer
e debruçamos a retina nas flores que esquecemos de regar.

Com o tempo nosso passeio segue de pés descalços.
O silêncio deixa de ser sinonimo de solidão.
Solucionamos as noites que tem solução
e sossegados abrimos um champanhe se o inexorável nos alcança.

Com o tempo a poesia passa a ter sentido.
A morte fraqueja em seus assombros de desespero.
Certificamos que a distinção não desfigura o que temos de igual
e o chão, a gravidade, o glamour e a queda são sobras do mesmo banquete.

Com o tempo sabemos para que nos serve o tempo.

sábado, 6 de julho de 2013

Apocalipse

Incendiar o mundo com um isqueiro.
Beber as chamas na taça de Nero.
Purificar a vida com as cores da morte.
Mandar cartas de silêncio ao amor que a fala profana.

Rasgar os discursos,
Escurecer os livros,
Condenar os santos na palidez de seus infernos. 


Lembrar do homem com um asco nos lábios.
Entender que os braços que buscam Deus procuram vantagem.
Apagar todas as luzes e chorar no escuro.

Não pode existir salvação no berço da contradição.
A mão que balança a Terra tem muitos prantos a contar.
A soma é o que mais nos diminui.

Incendiar o mundo com um isqueiro.
Conceder o fim como o perdão eterno.
Gravar na lápide escurecida: Não visitem.
Abrir as portas do nada que torna o tudo ao igual.