Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Desenho de Letras

Eu desenho com as letras.
Letras embaralhadas no quebra-cabeça da embriaguês.
Letras trêmulas, nervosas, cheias de monstros reais.

No delinear do meu desenho letras musicais de trilha sonora da vida.
No rabiscar da minha gravura letras perdidas no murmúrio atônito do suicida.

Meu desenho é de letras.
Dessas letras chamuscadas de desespero e solidão sem fim.
Dessas letras amareladas de bilhetes de amores não correspondidos.

Na tela do meu desenho as letras paraplégicas de um dia de sol que se foi.
Na tela do meu desenho as letras sonâmbulas de cada desejo mutilado.

Meu desenho é de letras biológicas.
Suadas, ensanguentadas, de respiração cardíaca sensorial.
Meu desenho é de letras despudoradas.
Amadas, sofridas, de angústia latente desproporcional.

No papel crepom do meu desenho vegeta as letras que o leitor não quis.
Na cartolina guache do meu desenho sossega o aborto de todas as letras.

Eu desenho com as letras.
Eu picho, pinto, lambuzo e estampo com as letras.
Fumo letras e sopro soberano sobre o tecido a imagem das letras que componho.
 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Desolado

Porta fechada.
Murmúrio da escuridão.
O vento não passa.
Estrelas fugitivas do céu.
Céu escondido do firmamento.
O silêncio foge de braços dados com o ruído.
A saudade atira no próprio ouvido.
 
E a chuva que não chega para chorar contigo.

Inverno


Acorde em Sol Maior
A noite merece uma sonata
Derramando chuva úmida de assovios
Enchendo de lama as poças do caminho
Limpando de lama os passos do sozinho
  
Acorde em Sol Maior
A noite merece uma cantata
Soprando garoa fria nos desvios
Molhando de inverno a janela do carinho
Abraçando o temporal de cada desalinho

Acorde em Sol Maior
A noite merece todo o silêncio
Da água caindo dos escuros
Das gotas chorrando seus sorrisos
Das vidas desvividas das tantas vidas.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Soturno

Ostento minha escuridão
A fragilidade de uma vela acessa em meio ao temporal
O urro de uma sombra esquecida de toda a luz

Sou mais escuro
A saudade apodrecendo a embalagem do presente
O triste tateando a maldição do ser feliz

Meu terno é negro
A beleza deformada dos dias em sorrisos
O amor encapuzado no olhar do carrasco

Meu drink taciturno é um noturno

Mangas cumpridas de saída
Barba a se acomodar
Pouco dentro da mochila
Força de volta ao luar

Sopro no último lume
Olhar encardido em seu lugar
Adeus vagalume
Solidão de pernas abertas a esperar

Ostento em Mi Maior
A noite escura que me lembrei de buscar.