Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Te direi te amo


Olhamos para fora perdidos por dentro.
A cicuta na mesa posta.
O sorriso inebriando a noite de estrelas.

Hoje bebo limonada.
Escrevo você com batom azul.
E canto baixinho um verso magro de amor.

A vida parece passar rápido no barulho ensurdecedor dos ônibus.
A mão cheia do mundo lembra um labirinto de sonhos em fuga.

É preciso abrir as janelas.
Deixar as flores e a hortelã entrar.

Nossos motivos não são nossos.
Vivemos espalhando cinzas e enganando lágrimas.

Saímos tão cedo e tão tarde voltamos cheios das rugas do dia.
Queria ficar ao teu lado, desenhar teu pijama, ouvir teu segredo.

Aonde ficou aquela voz, aquele som, aquele vestido de menina.
O tempo traz imagens de um blues negro largando pétalas no caminho.

Da varanda ainda se vê um rastro de mar
Desses que ajudam a umedecer a retina seca sem cantar.

Te direi te amo na melodia que parte para nunca mais voltar.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Quando o amanhacer não levanta


O bêbado amarelado
amanhece equilibrando os pés na areia da praia
fitando com olhos brumados de ressaca
o sol de raios trêmulos abrindo o horizonte.

Pensa infantilmente
que o astro incandescente
com seu calor rasante
pode secar
a avalanche de lágrimas
que está para chegar.

domingo, 1 de abril de 2018

Nevoeiro


Minha janela soprada de sereno em nuvens cinzas.
O frio em silêncio nos ossos.
Teu nome na lembrança.
Daqui sou tocado por ti
E meu braço curto não alcança as flores no jardim do 10º andar.

Caço metáforas para dizer o que me falta.
Não sei falar o que já foi escrito.
Sobro em mim.
Me derramo solvendo em sentimentos de alô e adeus.

A vida segue envergada em retas.
A matemática das probabilidades nega a chance de ser diferente.
Encontro fotos de 92 e sorrisos estáticos em papel amarelado.

Há dias em que somos desencontro.
Sou eu aqui nesse verso pálido ou fiquei para sempre na foto de 92?
Não importa!

Hoje o sereno nublado vem visitar minha vidraça
E me sinto em ti
Igual o tempo que tínhamos noite, estrela e orvalho no bolso da calça.