Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A ferrugem que trago no cântico é resistência



 Para Caetano Veloso
“Mas é proibido”, se arrasta a letra fria em ordem judicial.
É proibido cantar,
Levar poesia,
Libertar.

É proibido cuspir nos ratos que roem a carne,
Que lançam ao gueto,
Que trituram nos moinhos de ventos mórbidos os punhos do meu direito.

É proibido o violão,
A voz que canta e emudece a tirania.

É proibido o verso,
A gentileza que faz brotar força nos injustiçados.

É proibido sorrir sem dentadura,
Mostrar as cáries,
A cor da pele,
Os calos nas pálpebras, nos dedos, nos sonhos.

É proibido a igualdade,
A dança de ventre cheio, teto e sopa em dia frio.

É proibido ligar o som,
Afinar o hino,
Lavar a justiça social suja de barro, lama e hálito de magistrado.

É proibido construir um país,
Com melodia, flores, espaço e dignidade humana.

São permitidos o se cale eu,
O se cale tu,
O se cale nós.

São permitidos os podres poderes,
“Morrer e matar de fome, de raiva e de sede”.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O dedo que toca o céu


Para minha irmã

Não há nada do que preciso que eu não já tenha.
Perdi umas coisas e achei outras.
Ganhei a vida... 
E sentado na pedra no meio da estrada de terra e vento
Me abraço nos teus braços de lençóis alvos e fraternos.
Não te desejo o azul do céu, o verde dos vegetais, 
Nem a soma de tudo de bom que há neste mundo.
O desejo é um fraco
Não tem como se abrigar na vida
De quem já é paraíso.  

sábado, 14 de outubro de 2017

Licença poética para ser feliz


Para mim
mim e para você

para tempo
tempo paralisado
paralítico em teu colo
teu colo de parâmetros sensuais

parabólica da minha vida
vida que segue paralela ao teu viver
para-raios de toda a dor
paralamas do meu amor

para mim
para ti
para nós
para mundo

parasita sumindo
braços e abraços parafraseando
o sereno das tuas alegrias
alegrias para mim!