Para Caetano Veloso
“Mas é proibido”, se arrasta a
letra fria em ordem judicial.
É proibido cantar,
Levar poesia,
Libertar.
É proibido cuspir nos ratos que
roem a carne,
Que lançam ao gueto,
Que trituram nos moinhos de ventos
mórbidos os punhos do meu direito.
É proibido o violão,
A voz que canta e emudece a
tirania.
É proibido o verso,
A gentileza que faz brotar força
nos injustiçados.
É proibido sorrir sem dentadura,
Mostrar as cáries,
A cor da pele,
Os calos nas pálpebras, nos
dedos, nos sonhos.
É proibido a igualdade,
A dança de ventre cheio, teto e
sopa em dia frio.
É proibido ligar o som,
Afinar o hino,
Lavar a justiça social suja de
barro, lama e hálito de magistrado.
É proibido construir um país,
Com melodia, flores, espaço e
dignidade humana.
São permitidos o se cale eu,
O se cale tu,
O se cale nós.
São permitidos os podres poderes,
“Morrer e matar de fome, de raiva
e de sede”.