Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sexta-feira, 30 de março de 2012

Rosé


O desfolhar das flores sem canteiros
Cara suja sorrindo ao abandono do mundo
Suas noites embaladas em orgias
Seu lírico sabor a passear pelas mesas.

Ruim é acordar sem lembranças.
Ruim é rosnar como um cão domado.

A maquiagem suburbana alicia vagalumes
Chorar escondida após um dia sem sol
Nos lábios o vício que dopa as tempestades
Olhos de remela ao meio-dia da segunda-feira.

Felicidade é um pranto sem lágrimas.
Felicidade é um segundo bêbado no vazio.

A maquiagem pintando a tela das madrugadas
A marginal da cidade sombreando os passos
Verso abandonado
Falando amor em silêncio para não acordar o dia.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Tradução

Amor de resina
Resignando o sol sem luar.

Flores desenhadas na vidraça
Ornamentando o pranto da chuva sem trovões.

Tudo passa...
Passou...
Passará...

Tudo se repete
No eco correndo a frente do seu presente.

Nada é pra sempre
No ciclo do fim apaixonado por começos.

A dor é uma bebida quente
Adornando de anseio a arte do ser feliz.

Vida vai...
Foi...
Virá...

A partida é dividida com o que tem que chegar.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Blues de 12 Notas


...E esse blues
Cantando arrastado todas as sombras do amor.
Doze flores despetaladas.
Onze noites desluaradas.
Cabelos negros nos acordes do suicídio.

...E esse blues
Grunhido seu pranto na escuridão do desamor.
Dez anjos caídos.
Nove meses abortados.
Pele morena na tez pálida da solidão.

... E esse blues
Sussurrando desolado remotas juras de amor.
Oito cartas em chamas.
Sete doses do mesmo rum.
Lábios de ninfa na fronte invisível do nada.

...E esse blues
Melodiando em poesia a estória real do desamor.
Seis sorrisos na lembrança.
Cinco camas em desalinho.
Olhos de madrugada dormindo no nunca mais.

...E esse blues
Assoviando o que se foi entre cacos do mesmo amor.
Quatro estações perdidas.
Três novidades envelhecidas.
Sexo úmido entre as pernas da nostalgia.

...E esse blues
Dançando esquelético no vazio do desamor.
Dois corpos distantes.
Um vitral em branco e preto.
Adeus de batom acenando no último capítulo.

... E esse blues
Insistindo...
...insistindo
insistindo...
Por vezes,
- Só resta um blues.

sábado, 3 de março de 2012

Ópera


O deserto afina seu violino anêmico
Cada sabor no teu corpo amassado balbucia um conto
São estrelas apodrecidas no congelador
São esmaltes quarados sobre cada unha

O silêncio não passa de um carrasco vestido em plumas

Seria bom fugir para o fim do caminho
Sem lembranças
Sem o toque aveludado do caos na epiderme

(Sonho é possibilidade de frustração)

Vem o trajeto de ida sem volta ao manicômio
Vem o balé paraplégico do mesmo horizonte
Vem a neblina enrugando de frio as calçadas

(A dor é uma compressa de gelo do viver)

Cada diário uma quimera enegrecida no sótão do tempo
Sem o acalanto rangendo ao fim de tudo
Sem o afago das moscas de plantão

A tarde vai tarde
Enfeitando de azul o suicídio de cada dia.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Balada sem Eco

As águas turvas no olhar
O amargo pálido no batom gasto
Diziam não ter nome certo
Diziam não ter leito certo

Estava sempre no Central-Bar falando alto

Com aqueles vestidinhos deprimidos
Com aquelas unhas rabiscadas a esmalte de cor

Ninguém sabia falar dela
Tinha algo de flor
Talvez a melancolia de conduzir espinhos
Talvez a angústia do mesmo perfume

Cantava melodias de um céu opaco
Dançava em silêncio como quem se faz distante

Era só
Como o uivo do silêncio em alto mar
E estava lá
Arfando nos excessos de um porre
Chamando por nomes estranhos
Rogando por nomes distantes
Que nunca
Nunca a ouviram

Certamente.