Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

domingo, 28 de setembro de 2014

Cartas e Cartazes


Tenho cartas guardadas em mim,
Cartas do dia que cheguei,
Cartas dessas de cada fim.

Tenho cartas assinadas em branco,
Cartas curtas como braços de afogado,
Cartas aguardando resposta de um ombro ao lado.

Tenho cartas assassinadas,
Cartas extensas como o segundo da mais grave dor,
Cartas tristes sorrindo da janela em passagem.

Tenho cartas de amigos que se foram,
De amigos que ficaram,
De amigos que me esperam.

Tenho cartas do passado mostrando os dentes alvos ao futuro,
Cartas de mãos dadas,
Cartaz de acenos para nunca mais.

Tenho cartas que amanhecem,
Cartas que anoitecem,
Cartas de equilíbrio e desequilíbrio mais profundo.

Tenho cartas de você e de mim,
Cartas de mim junto a você,
Cartas de você longe de mim.

Tenho cartas que dão cartazes,
Cartas para não ler,
Cartas que me assombram sem ninguém saber.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Fláuta Mágica

Guarde as estrelas no bolso do seu firmamento.
Bato as mãos que soletra a poeira do adeus de cada estação.
Antes é o suicídio do tempo.
Agora tenho o presente e os laços sem nós que alguém largou.
.
Estou de saída e a saída não me agrada.
Deixo a porta aberta para o vento ter companhia.
Nessa altura me protejo nas assas soturnas do corvo negro.
As passadas pesam como o concreto armado da negação.
.
Não junte cartas, nem lembranças,
Nem mande recados para o outro lado do mundo.
Assino com navalha os pulsos desse nunca mais.
Abro a cela que condena o presente ao passado.
.
Estou de saída e a saída implora que fique.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Relógio de Bolso

O frio treme em mim.
A saudade do que fui vem me visitar de copo na mão.
Para onde foram meus amigos depois que o sol saiu?
E aquela canção,
E aquela palavra,
E aquele ambiente estático no magazine do tempo a me chamar.

O frio bate seus dentes cariados em mim.
De onde estou me vejo onde não estou.
Ao meu redor tudo me rodeia em outro lugar.
E aquela noite,
E aquele bar,
E aquela dança sem saber dançar.

O frio insiste em me dar a mão e me escoltar.
Vou abrindo gavetas, folhas mofadas, tragando o sereno sideral.
Uma fórmula qualquer para poder voltar.
E aquele sorriso,
E aquele olhar,
E aquele jardim onde mais está?