Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Canhões nas ruas

Teremos canhões nas ruas.
Canhões esquartejando os jardins das casinhas simples.
Casinhas que mais parecem equilibristas de circo.
Bamboleando um quase cai com o vento.

Casinhas com gente pobre,
Gente humilde,
Gente negra,
Gente que tem que insistir a todo instante: Sou gente!

Teremos soldados e botas de ferro pelas ruas.
Marchando brutas e apagando arco-íris com fuzil e pólvora.
Profanando terras sagradas protegidas por um xamã já morto.
Apodrecendo liberdade num porão guardado por generais de pijamas.

Teremos dias de sangue
Sangue dos que não valem nada,
Dos que não servem para nada,
Dos que não deviam existir,
Dos excluídos e dos abortados depois de nascer.

Livros serão queimados,
Ideias serão queimadas,
Pensadores serão queimados,
Por fogueiras acessas no altar dos templos
Sob oração de pastores pagãos.

Cavamos a vala fúnebre do nosso abismo.
E quando for meia-noite
Do último dia,
Do último mês,
Do último ano,
Dirás crédulo: “Feliz Ano Novo!”

E verás a brevidade da luz dos fogos
Apagando o sol que não nasceu
Como lanterna de afogado
Sinalizando socorro
Ao se lançar por vontade própria nos braço do mar revolto.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Pra ser feliz de novo


Nesse livro não há armas.
Armas brutas de sangue e pó dos excluídos.
Armas que dão a certeza da pequenez do homem
que arma em si o medo no outro.
que violenta e divide o espaço armado
como fronteira atacada por cães indomados,
primitivos,
sobretudo, escravos da própria insipiência.

Nesse livro não cabe a munição que assassina,
tortura,
decompõe,
e separa uns de um,
Uns de todos,
Uns de tudo.
Não cabe o grito atroz que fere a mão calejada,
os lábios rachados,
os ombros curvos,
a alma dos menores de tão grande alma.

Nesse livro não há calabouços,
ranger de dentes,
tumbas escuras assombradas por homens gordos,
com sorrisos sarcásticos,
e a palmatória do mundo fazendo sumir nomes,
apagar estrelas,
e propagar a bíblia do obscurantismo.

Nesse livro tem aquilo esquecido na prateleira humanidade.
Tem dias de sol,
dias de lar,
dias de amizade,
dias de uns e de outros e de tantos.
dias de todos,
dias chamando
vem ser feliz de novo.