Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 2 de dezembro de 2017

Céu em guardanapos


Quantas portas ainda tenho que abrir para te encontrar.
As rugas pesam meus olhos tardios de tua centelha.
Desenho sobre mesas e guardanapos soluções fracassadas.
Meu cansaço é uma dose cavalar que rasga a escuridão,
Planta flores de sol no deserto,
E sorrir como somente os tristes sabem sorrir.

Folheio você em revistas publicadas em papel-jornal.
O espelho não me acha nesses dias de pouca luz.
Desço a calabouços e me entrego ao pó da insônia das ninfas.
Fito o universo buscando estrelas cadentes,
Cometas moribundos,
Um raio de buraco negro que me conduza até você.


Me sinto essa coisa latente sublinhando o céu que não sei encontrar.



terça-feira, 31 de outubro de 2017

A ferrugem que trago no cântico é resistência



 Para Caetano Veloso
“Mas é proibido”, se arrasta a letra fria em ordem judicial.
É proibido cantar,
Levar poesia,
Libertar.

É proibido cuspir nos ratos que roem a carne,
Que lançam ao gueto,
Que trituram nos moinhos de ventos mórbidos os punhos do meu direito.

É proibido o violão,
A voz que canta e emudece a tirania.

É proibido o verso,
A gentileza que faz brotar força nos injustiçados.

É proibido sorrir sem dentadura,
Mostrar as cáries,
A cor da pele,
Os calos nas pálpebras, nos dedos, nos sonhos.

É proibido a igualdade,
A dança de ventre cheio, teto e sopa em dia frio.

É proibido ligar o som,
Afinar o hino,
Lavar a justiça social suja de barro, lama e hálito de magistrado.

É proibido construir um país,
Com melodia, flores, espaço e dignidade humana.

São permitidos o se cale eu,
O se cale tu,
O se cale nós.

São permitidos os podres poderes,
“Morrer e matar de fome, de raiva e de sede”.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O dedo que toca o céu


Para minha irmã

Não há nada do que preciso que eu não já tenha.
Perdi umas coisas e achei outras.
Ganhei a vida... 
E sentado na pedra no meio da estrada de terra e vento
Me abraço nos teus braços de lençóis alvos e fraternos.
Não te desejo o azul do céu, o verde dos vegetais, 
Nem a soma de tudo de bom que há neste mundo.
O desejo é um fraco
Não tem como se abrigar na vida
De quem já é paraíso.  

sábado, 14 de outubro de 2017

Licença poética para ser feliz


Para mim
mim e para você

para tempo
tempo paralisado
paralítico em teu colo
teu colo de parâmetros sensuais

parabólica da minha vida
vida que segue paralela ao teu viver
para-raios de toda a dor
paralamas do meu amor

para mim
para ti
para nós
para mundo

parasita sumindo
braços e abraços parafraseando
o sereno das tuas alegrias
alegrias para mim! 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Flores e jasmins


De repente a saudade enlaça seus lábios de cetim.
Manda telegramas de longe para mim.

Vejo a tarde escurecendo e a vida se esvaindo nas células mortas no tempo.

O teorema do que ficou é a prova desnuda em sobras de lsd.
Sou a enciclopédia perdida entre gametas infecundos de horizonte.
Amo o que se foi por incapacidade poética de ver girassóis neste jardim.

Tenho livros na estante,
CDs de canções sem fim.
Tenho o gosto do era uma vez
acenando flores,
flores,
mais flores e jasmins.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

On the road



A nossa frente somente estrada.
Estrada de pedras,
de cascalhos de fogo,
de granizo das geleiras.

Nosso horizonte espelha estrada.
Estrada fria e incompreendida,
Cheia de acenos e de folhagens.
Estrada deliciosamente igual a montanha russa sem fim.

Somos feitos de estrada.
E a estrada é o passeio da vida.
Vale mais do que qualquer chegada.
Vale mais do que qualquer partida.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Nuvem






O dia passa esvoaçando perfumes de flores molhadas.
Do alto da minha tristeza ainda consigo sorrir.
E o sorriso segue o vento sem cor na dimensão do nada
Que cada um de nós se encontra largado.

A chuva cai como pluma azul brotando de um terremoto.
A esperança rega o hálito da vida que nos engana de viver.
E você ama,
E você odeia,
E você masca chicletes, toma chás e vai dormir novamente.

Pela vidraça embaçada dá para ver crianças no parquinho.
Meu aceno invisível se perde no tempo que nos apaga feito borrão.