Eu
te recebo em sala vazia.
Com
vento desatento entrando sem licença.
Com
vaso sem flores na mesa posta.
Te
recebo com mãos geladas e olhos lacrimosos.
Fitando
a luz que não quer entrar nesse dia.
Meus
ombros parecem sustentar a fé dos meninos mortos.
É
raio empinando pipa banhada de céu tenebroso e cinza.
Eu
te recebo sem cadeiras para sentar,
Sem
fábulas para fazer bebê dormir.
Sem
um lar a colher borboletas no jardim.
Estou
parado, em pé, rígido com o que há de etéreo nas quedas.
Ouço
o planeta em chamas e cigarros acesos de radiatividade.
A
caixa postal tem telegramas do holocausto e seda de aranha.
A
culpa é da fronteira, do tratado, do céu e do mar em divisão.
Eu
te recebo sem presentes,
Sem
caixa de enfeites,
Sem
uma cor de arco-íris a desfilar sobre prédios.
Te
recebo envergonhado, cansado, sem voz ou genuflexão.
Negando
a esperança dos moribundos que apenas aguardam salvação.