Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quarta-feira, 20 de junho de 2018

A visita do anjo



Eu te recebo em sala vazia.
Com vento desatento entrando sem licença.
Com vaso sem flores na mesa posta.

Te recebo com mãos geladas e olhos lacrimosos.
Fitando a luz que não quer entrar nesse dia.

Meus ombros parecem sustentar a fé dos meninos mortos.
É raio empinando pipa banhada de céu tenebroso e cinza.

Eu te recebo sem cadeiras para sentar,
Sem fábulas para fazer bebê dormir.
Sem um lar a colher borboletas no jardim.

Estou parado, em pé, rígido com o que há de etéreo nas quedas.
Ouço o planeta em chamas e cigarros acesos de radiatividade.

A caixa postal tem telegramas do holocausto e seda de aranha.
A culpa é da fronteira, do tratado, do céu e do mar em divisão.

Eu te recebo sem presentes,
Sem caixa de enfeites,
Sem uma cor de arco-íris a desfilar sobre prédios.

Te recebo envergonhado, cansado, sem voz ou genuflexão.
Negando a esperança dos moribundos que apenas aguardam salvação.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Olhos de tempestade


Teus olhos chovem agora.
O batom dos teus lábios parece tremer de frio.
Estou na distância e datilógrafo versos de naufrágios.
A tempestade se esconde no meu abraço brando.
Canto para ninar tua sombra e num estalar hipnótico despertar teu riso.

Menina cadê o vestido azul?
Beleza é te ver vestida de céu.
Brumando temporais com flores.
Acendendo lamparinas a poetas sem luz.

Não pule agora.
Meus braços frágeis não podem segurar.
Teu balé guia minha visão sonâmbula e perdida.
Te chamo pelo nome.
Mando cores roubadas para te fazer sonhar novamente.