Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 23 de março de 2013

Noturno

Noite
tua escuridão
é a mais bela
das estrelas.

Aquela
que lembra
o silêncio
sossegado
do vazio.

Tua sombra
mastiga analgésico
sobre o cansaço
de todos
os dias
trabalhados.

Noite
teu nome
tem a virtude
dos justos.

Daqueles
que trafegam
pelo medo
sem temor
nenhum.

Minha
bebida
é um brinde
a tua beleza
de olhos
negros.

Noite
me cubro
de ti
para enfrentar
a cegueira
da luz
sem iluminação.

sábado, 16 de março de 2013

Onomatopeia




Você
É a minha onomatopeia preferida.

Aquela,
Que desperta no susto escondido atrás da porta.
Que alivia a dor dos dias difíceis.
Que adormece no rosto em uma nota só.

Aquela,
Que acalma no gole duplo da bebida.
Que oxigena de força os pulmões cansados.
Que amortece a soma no trabalho do estivador.

Você
É a minha onomatopeia mais querida.

Aquela,
Que estala nos lábios dos amores.
Que abraça o esforço da missão cumprida.
Que dedilha o terço da velhinha em oração.

Aquela,
Que apregoa o sol no relógio em desatino.
Que apresenta a fome pedinte nas ruas.
Que sossega o aflito no final do seu amém.

Você
É minha onomatopeia de todos os dias.

Aquela,
Que a memória não consegue entorpecer.
Que o suicídio não pode se livrar.
Que a vida faz questão de chamar.

Aquela,
Que habita o hábito do monge.
Que sangra no grito da revolução.
Que nina o sono breve do bebê.

Você
É a minha onomatopeia colorida.

Meu ui!
Meu ai!
Meu aieee!
Meu touché!

Meu último suspiro de amanhecer.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Poesia


Batom e lábios
Colorindo o porvir tempestuoso.

No rosto um sorriso estendido no prazer
Entupido em angústias agudas incontíveis.  

Um buquê aflora entre pulsações.
Uma gravidez regada a absinto.

Não falta mais teu abraço.

A suave lavanda flui neste espaço.
As águas em tons diversos fremem por segundos.

Não importa a cara doente da dor.
Não importa o último suspiro.
Nem mesmo a réstia avassaladora da solidão.

O gim ilude a loucura perfeita em seu crochê.

E teu beijo vermelho de lábios verdadeiros
Silencia suavemente as penumbras da alma.

E o frio já não se faz mais tão frio.
E o desgosto já passa a ter outro gosto.

Minha mais doce e fiel amante.
Minha luz escura de sereno luminoso.

Poesia.  

         

 

terça-feira, 12 de março de 2013

Planeta Vagão



A voracidade da sobrevivência.
Cão sem dono mascando concreto armado.
Vida desvivida nos sonhos apodrecidos.
O tempo bebendo a gente em doses homeopáticas.
O sorriso lagrimejando o que passou.
A lágrima cantando a esperança do que virá.
O presente embrulhado no beco sem saída do que tem que ser feito.

Quantos santos dentro de nós ainda mataremos?
Quantas vidas nossas serão apedrejadas no muro das vaidades?

Ouço o som desafinado do violino do anjo caído.
Desminto a certeza com toda a certeza.
Hora...
Nada vale a pena se a alma não for pequena.
A grandeza é o sobretudo dos fracos.
O único servo que precisamos é o servo de nós mesmos.
Apague a luz.
Vá dormir.

Entre a ilusão e a realidade escarro as duas.
Seus pregadores não merecem confiança.
E o gemido do agora ou o vilão com lança que aguarda na outra esquina
Vem da necessidade desnecessária de uma vida que conduz a morte.
Plante seu amém na estrela mais distante.
Distante do que te ensinaram neste planeta vagão.
Planeta vagão das sombras de cada um de nós.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Nebulosas




Vamos falar mais baixo.
O grito é surdo neste mundo.

_ Despiu a sainha de chita da menina.
Prometeu cacos de vento em um verso.
Sobraram as sobras em retalhos bicolores.

Vamos falar mais baixo.
A cidade é lágrimas no subúrbio dos contentes.

_ Sapateou no assovio um blues ao relento.
Queimou erva-doce no chá das cinco.
Despejou na calçada da liturgia o bronze dos ombros.

Vamos falar mais baixo.
O segundo é o tempo necessário a qualquer fim.

_ Bateu estrelas no liquidificador dos lábios.
Sentou ao lado relampeado de cada deus.
Entendeu a soma das dores dos mil diabos.

Vamos falar mais baixo.
A virtude não usa espelho.

_ Abraçou sorrindo as mais negras despedidas.
Tirou o chapéu para a sabedoria dos ignorantes.
Acendeu uma vela em devoção a toda contradição.

Vamos falar mais baixo.
O esquecimento é o lazer da memória.

_ Saudou o santo apodrecido em todo homem.
Lembrou-se da menina, da sainha, do verso, do blues...
Tragou a lama da Terra não encontrou pureza nenhuma.

Vamos falar mais baixo.
A mão no gatilho frio acredita que seus passos só cabem no espaço.

_ Siga em paz.