O
ranger da cadeira de balanço frente à janela.
A
escuridão da noite cabe no copo de bebida.
E
tinha um vestido molhado de chuva.
E
tinha um batom pálido no sorriso.
Era
menina que cresceu sem nenhum aviso.
O
vento fumava charuto de ar entre os cabelos grisalhos.
A
vida com sua culpa de despedida.
E
tinha um retrato em branco e preto sem lembrança.
E
tinha um diário cuspindo o tempo no tapete da sala.
Era
menina que fugiu sem nenhuma fala.
A
mão tremia sem sono ante o espanto da calmaria.
O
pirilampo da juventude encarcerado na mais longa torre.
E
tinha um perfume no cetim afiado da navalha.
E
tinha um orgasmo no sexo cremoso de cada cravo.
Era
menina que conta o último centavo.
A
morte vestida de vermelho no esmalte de cada unha.
O
gole de lua branca na estampa da cortina neblinada.
E
tinha um delírio de para sempre naqueles dias.
E
tinha um sol enluarado na noite que o dormir chegava.
Era
menina que qualquer porta destrava.
O
medo amedrontado escondia seu rosto entre os dedos.
A
vitrola em último volume tratava o grito com ternura.
E
tinha um romance declamando valeu a pena.
E
tinha um perdão desbotando a tirania da dor.
Era
menina que viveu a ciranda do mais amor.
A
queda emprestando seus sapatinhos de camurça.
O
uivo da gargalhada de quem sabe bailar diante do nada.
E
tinha um broche anarquista na lapela.
E
tinha um livro amarelado cantando Estrela da Vida Inteira.
Era
menina que fez de cada triste eu o seu mais feliz você.
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