Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sexta-feira, 8 de março de 2013

Nebulosas




Vamos falar mais baixo.
O grito é surdo neste mundo.

_ Despiu a sainha de chita da menina.
Prometeu cacos de vento em um verso.
Sobraram as sobras em retalhos bicolores.

Vamos falar mais baixo.
A cidade é lágrimas no subúrbio dos contentes.

_ Sapateou no assovio um blues ao relento.
Queimou erva-doce no chá das cinco.
Despejou na calçada da liturgia o bronze dos ombros.

Vamos falar mais baixo.
O segundo é o tempo necessário a qualquer fim.

_ Bateu estrelas no liquidificador dos lábios.
Sentou ao lado relampeado de cada deus.
Entendeu a soma das dores dos mil diabos.

Vamos falar mais baixo.
A virtude não usa espelho.

_ Abraçou sorrindo as mais negras despedidas.
Tirou o chapéu para a sabedoria dos ignorantes.
Acendeu uma vela em devoção a toda contradição.

Vamos falar mais baixo.
O esquecimento é o lazer da memória.

_ Saudou o santo apodrecido em todo homem.
Lembrou-se da menina, da sainha, do verso, do blues...
Tragou a lama da Terra não encontrou pureza nenhuma.

Vamos falar mais baixo.
A mão no gatilho frio acredita que seus passos só cabem no espaço.

_ Siga em paz.

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