Caminho de folhas secas.
Vento deus soprando sua doutrina.
Vida envelhecida, carcomida, engolida.
Vida envelhecida, carcomida, engolida.
O poeta aprisionado em grades de
sombras.
O verso, a pílula, a cinza colorida
depois da janela.
Seus olhos tem a voz dos calabouços.
Seus olhos tem a cortesia dos absolutos.
Os passos seguem os reflexos do sol da
manhã.
Porta fechada, motor ligado, pequenos
goles de adeus.
Os passos reacendem no escuro inóspito dos
astros.
Ombros cansados, bagagem do mundo,
hotel do lar.
Vida servida ao cão pulguento dos
enganos.
Seus gestos têm as sobras de todos os
restos.
Seus gestos tem a maresia dos tributos
sem fim.
Linhas desligadas, socorro mudo, conferência
que não confere.
O importante é uma porta travada pelo
que não importa.
E esse vício de construir o que não
possui.
E essa soma que divide o que se possui.
Ampulheta sem tempo para o tempo que
vale o tempo.
Seu sotaque tem a tradução dos filmes
de ficção.
Seu sotaque tem a forma do cadafalso
moderno.
Caminho de folhas secas.
Vou pular.
Saltar de um qualquer último andar.
Corpo lançado entre as brechas do ar.
A poesia há de me salvar.