Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Maná


E a luz acendeu,
E o gás inalou ar puro,
E a marcha abandonou a planície invadindo o planalto,
E a pedra beijou vidraças,
E o estilhaço feriu os pés,
E o sangue se fez mercúrio cromo,
E o nada vestiu-se do tudo,
E a liderança foi liderada,
E o antes deu lugar ao depois,
E a cura ungiu em fogo todas as enfermidades.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Depois que a Luz Apaga

Guarde o céu.
Apaguei o azul dos teus olhos
nos tragos de fumaça de tudo que é cinza.

Siga o sol.
Meus passos soletram o ritmo do blues
que a solidão cantarola cheia de tudo que é feliz.

Vou traficar analgésicos em ampolas de versos tristes.
Vou regar as flores na janela de cada frustração.

Seja horizonte.
Minha noite cobrindo o tênis gasto
pela vida abraçada no desgaste da sua borracha.

Abrigue-se.
A volta desenha nos riffs de tempestades
o perigo nebuloso espreitando a exigência da curva.

Não nego o sonho, a iluminação, nem a beleza.
Bebo todos os licores e canto com a mesma voz suas ressacas.

Guarde o céu.
Minha liberdade esqueceu seu nome e sobrenome.
Não levo mochilas e há sempre o que fazer depois que a luz apaga.

sábado, 22 de junho de 2013

Amálgama da Flor

O pirilampo insiste
No meio da noite
Combater a escuridão.

Dom Quixote,
Moinhos de ventos,
São Jorge e seu dragão.

A utopia e suas botas
Carregando a lama
E rasgos em seu blusão.

A luta nunca é perdida
Se a causa é justa,
Abnegada e para muitas mãos.

A dor que não dói em ti
Fará tremer o mundo
Quando habitar o teu salão.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Curvas sobre Curvas

Guardo todos os becos sem saídas
na saída curva apontada pela dúvida do meu indicador.
A esquina do outro lado da avenida
convida-me ao enfrentamento do freio, da buzina, dos pneus, do aço,
contidos nos automóveis que se agridem no asfalto.
Cruzar a avenida é uma dúvida,
assim como a esquina é uma dúvida,
e a dúvida é a necessidade inexorável da vida.

Dobrar a esquina é multiplicar os horizontes.
É a possibilidade de romancear múltiplas chances de ser feliz.
Pode ainda ser o passo ao encontro do breu, do calabouço,
da sombra de vela acesa abrigada sob véu da noiva no altar.

Permanecer inerte na calçada dando milho ao tráfego, também é uma dúvida.

O primeiro beijo é uma dúvida,
o segundo e os outros também.
O primeiro amor é uma dúvida,
os seguintes também.
O dia nasce e some na dúvida.
A noite alta segue o mesmo galope também.
Insistimos em propagar certezas
Quando somos dúvidas também.

Liberto o frio de três pedras de gelo no whisky.
Brindo a beleza que floreia a dúvida do ser ou não alguém.
Por fim,
largo minhas dúvidas em cada gesto do meu amém.