Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Logo passa


Escuta esse verso agora
Trago sol nas palavras que caem dos lábios sem batom.
Eu quero te contar o que perdi,
O que não achei depois de cruzar a rua e admirar janelas abertas.
Te contar o que vi antes de você fechar os olhos e sorrir.

Aqui parado sinto as horas nublando ponteiros de relógios.
Envelheço em câmera lenta diante do espelho quebrado.
Tudo que passou consigo lembrar, mas quem vai me lembrar o que virá?
Parece chuva e ela cai entre eu e você.
Molha teu vestido,
Te faz correr,
Buscar abrigo,
Rir de tudo com a suavidade serena do que logo passa.

Escuta…
Logo passa…

sábado, 10 de novembro de 2018

A ponte sobre o mar

Não mereço teu abraço.
Sou quarto isolado
com uma poltrona
e lâmpada queimada no teto.
Não sou tão triste quanto os poemas de Bandeira.
Mas procuro,
busco com dedos calejados e trêmulos
um silêncio que o mundo não apresenta pistas.
Meu segredo se perdeu de mim
e quando olho o caos dessa varanda ventada de mar
entendo porque alguns preferem pular.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A noite me cala


Quantos dias sobram depois que a noite chega?
Não tenho um amor sequer.
Minha solidão brota de um horizonte de areia branca.
Pensei em ligar - diz o poeta.
Mas quem quer ser meu amigo?
(Pergunta depois de apagar a luz da sala, fechar a porta da casa e vestir os olhos de nuvens).

Há dias em que tudo é imperfeito.
Temos o terno manchado,
O ônibus lotado,
A dor cuspindo mais forte no peito,
O abismo abocanhando rastros de luz que sobraram.

Se você fechar as janelas agora não verá o que tem lá fora.
E o que tem lá fora é entorpecimento.
São papoulas que te prendem ao perecível.
Com o pó do calor que transforma jardim em deserto.

Queria que pudesses me ver.
Ver no fundo desse pássaro unitário.
Ave desolada.
Circulando sem asas.
Mudo de cântico.
Breve como um cemitério de sonhos suicídas.

Agora...
Já posso ir.

sábado, 3 de novembro de 2018

Para quando você fechar os olhos

Você e eu
De olhos fechados
Mesmo tão distante
Ainda tenho como ver.

E de olhos nublados
Acordados em meio a escuridão
Rolo o trinco da porta
Deixando exposta a nudez
De um coração pequeno
Batendo em notas musicais
O sabor de te ver sorrir.

Eu e você
Fechando agora os olhos
Mesmo em vidas estrangeiras
Tocamos dedos no céu.]

Céu de pouca luz,
Céu de destino curto,
Céu de começo,
Meio,
E fim.