Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A noite me cala


Quantos dias sobram depois que a noite chega?
Não tenho um amor sequer.
Minha solidão brota de um horizonte de areia branca.
Pensei em ligar - diz o poeta.
Mas quem quer ser meu amigo?
(Pergunta depois de apagar a luz da sala, fechar a porta da casa e vestir os olhos de nuvens).

Há dias em que tudo é imperfeito.
Temos o terno manchado,
O ônibus lotado,
A dor cuspindo mais forte no peito,
O abismo abocanhando rastros de luz que sobraram.

Se você fechar as janelas agora não verá o que tem lá fora.
E o que tem lá fora é entorpecimento.
São papoulas que te prendem ao perecível.
Com o pó do calor que transforma jardim em deserto.

Queria que pudesses me ver.
Ver no fundo desse pássaro unitário.
Ave desolada.
Circulando sem asas.
Mudo de cântico.
Breve como um cemitério de sonhos suicídas.

Agora...
Já posso ir.

Nenhum comentário: