Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 14 de maio de 2016

Azul da cor da sombra



Disseram-me que você é só tristeza.
Cai mais chuva na soleira dos seus dias
E a noite se perde procurando estrelas cadentes.

Disseram-me que o sol nublou a beleza do teu riso.
Partiu o amor deixando óleo diesel sobre lírios
E as crianças sentem tua falta quando a grama está verde.

Disseram-me que você abriga ausências.
Nunca mais foi ao porto admirar o adeus das velas
E a saudade faz calabouço nos teus gestos vagos de menina.

Disseram-me que a porta ficou aberta e as janelas quebradas.
Você olhou para trás chamando borboletas em pó
E ainda deitou os olhos no peito sem ar do que ficou.

Disseram-me que você partiu acenando as mãos num tanto faz.
Serenava desconforto dos teus poros sem nada parecer bem
E a tarde passeava azulada por baixo das tuas sapatilhas coloridas.

Disseram-me coisas de cansaço,
De adeus,
De nunca mais,
De pouca graça.

Disseram-me coisas que guardo acordadas em poemas.
Delineando os planos de que tudo ainda vai dar certo.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Olhos de locomotiva



Seus olhos me lembram uma noite sem estrelas
Fitando minha solidão enquanto caminho de volta para casa.

Carrego sujeira nas unhas e amores desfeitos.
Sigo sonâmbulo na vida que me engana que vivo.
Tenho razões e razões não valem nada.
Tenho aplausos e aplausos não valem nada.
Tenho tudo que nada vale.

Vou chegando e partindo na imagem que a janela do carro deixa para trás.
Nem a chuva visita meu para-brisa agora.
Nem o vento resseca minha retina nesta hora.
Seus olhos me lembram meus assombros de criança.
A ausência de medo me larga sozinho em frente ao rugir da locomotiva.

Sigo, sigo e sigo.
Deixo para trás.
Esbarro no que vem a frente.

Sou esta dor, este embaraço, esta história anônima.
Sou o reflexo que apaga a luz dos seus olhos sem estrelas
E te faz dormir quando o sol não tem mais nada a iluminar.