Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sobre o Tempo


Com o tempo não temos mais sustos.
O coração vai simplificando os temas.
Deixamos o ponteiro correr na frente
e sentamos serenos no meio-fio de todas as escolhas.

Com o tempo aprendemos a ignorar a urgência.
A agitação feroz da vida perde a autoridade.
Concluímos que no momento em que dividimos, nós somamos
e que a força não se abriga no punho cerrado e sim, na resiliência dos dias cansados.

Com o tempo as necessidades envelhecem e morrem.
O grito de guerra se mostra um erro.
Falamos mais baixo por termos certeza
e percebemos que a rota das vitrines é o esteio do nosso vazio.

Com o tempo não há mais fuga de si mesmo.
A dor é obrigada a encontrar a cura.
Abandonamos os esconderijos sociais do parecer
e debruçamos a retina nas flores que esquecemos de regar.

Com o tempo nosso passeio segue de pés descalços.
O silêncio deixa de ser sinonimo de solidão.
Solucionamos as noites que tem solução
e sossegados abrimos um champanhe se o inexorável nos alcança.

Com o tempo a poesia passa a ter sentido.
A morte fraqueja em seus assombros de desespero.
Certificamos que a distinção não desfigura o que temos de igual
e o chão, a gravidade, o glamour e a queda são sobras do mesmo banquete.

Com o tempo sabemos para que nos serve o tempo.

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