Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 28 de janeiro de 2012

Essa tal felicidade


Deitar sob o fim de tarde coberto pelas cores de fogo do arrebol. O pensamento plana na pouca força de um vento preguiçoso. Crianças correndo ao lado de todo o tempo do mundo. Tento entender o desenho cego das nuvens enquanto sinto o tocar de mão silencioso da pequena de todos os dias. A felicidade é simples como um poema de verso único. Tem cheiro de terra molhada e quase sempre visita os nossos dias quando não estamos olhando.


Mário Quintana em sua sabedoria de poeta existencialista, alerta para o velhinho triste que teimamos em cultivar, quando compõe: Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: Em vão, por toda parte, os óculos procura tendo-os na ponta do nariz! 

A humanidade é movida pela composição de uma felicidade, que, muitas vezes, habita o cume de uma montanha íngreme e quase inabitável aos apelos incansáveis da maioria. Essa sensação que amplia os sentidos numa harmonia quase divina é caçada a ferro e fogo nos cantos e recantos do planeta. As mãos tateiam na escuridão e são feridas comumente no aço pontiagudo das ilusões maximizadas da matéria.

A felicidade é etérea. Assim sendo, navega num plano superior ao desgaste do que é palpável. Caminha próxima e intrínseca a essa essência vital que dar luz ao corpo. É o prazer de encontrar beleza na profundeza do alcançável. É a linha de uma pipa empinada e partida sentido o sabor inexorável de tocar o chão outra vez.

Epicuro, o Filósofo do Jardim, na sua Carta a Meneceu orienta que o encontro da felicidade tão próxima, só pode ser alcançado cultivando a virtude. Uma se encontra intimamente ligada à outra. A primeira não existe sem a presença da segunda. Vai mais além quando confirma que todo bem supremo para o ser feliz está nas coisas simples e fáceis de obter e que o homem que vive entre bens imortais não pode se assemelhar a um mortal.

Esse encontro profético do EU com essa divindade criptografada da vida feliz tem um mapa legível orientando seu palácio, porém não tão fácil de ser trilhado. A filosofia produz espaço e luz refletindo o campo de flores ornamentadas pela felicidade, que nada mais é que a negação dos desejos frívolos e artificiais do mundo de glórias vãs que adormece o homem na letargia perfeita do encontro ao nada.

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