Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Aquarela

À Montenegro Barros


A tinta soluça suavemente na tela
Teu pincel escarra todos os gemidos do mundo
No passeio o fim acena sorridente
No quarto a expressão abandonada do silêncio
Pintar é corta-se para se ter um lamento

Por trás das telas uma ninfa de pernas abertas
Cabelos soltos ao desalinho do tempo
Olhos cansados de tantos alcalóides

Tua pintura traz a sombra com flores coloridas nos (braços
E é o fiel abrigo do solitário
E é o doce vinho dos angustiados

Nos subúrbios de teu riscado vem um afago à Van Gogh
Pinta-se a cara e os trejeitos da morte
Pinta-se o sexo e o hálito de uma vadia na esquina

Gargalhando como um animal em êxtase supremo
Bebem-se todas as taças de cores multicores
E desenha no sonho o curativo das fraturas
Como um pierrô sem casa
Pintado feliz a aquarela da vida que lhe resta.


(Poema do livro Flor de Metal - 2001)

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