À Montenegro Barros
Teu pincel escarra todos os gemidos do mundo
No passeio o fim acena sorridente
No quarto a expressão abandonada do silêncio
Pintar é corta-se para se ter um lamento
Por trás das telas uma ninfa de pernas abertas
Cabelos soltos ao desalinho do tempo
Olhos cansados de tantos alcalóides
Tua pintura traz a sombra com flores coloridas nos (braços
E é o fiel abrigo do solitário
E é o doce vinho dos angustiados
Nos subúrbios de teu riscado vem um afago à Van Gogh
Pinta-se a cara e os trejeitos da morte
Pinta-se o sexo e o hálito de uma vadia na esquina
Gargalhando como um animal em êxtase supremo
Bebem-se todas as taças de cores multicores
E desenha no sonho o curativo das fraturas
Como um pierrô sem casa
Pintado feliz a aquarela da vida que lhe resta.
(Poema do livro Flor de Metal - 2001)
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