Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O horizonte na caverna


Mais uma dose. Vitrola acionada. Vento frio rasante assoviando da janela. Acredito na música. Na poesia que desperta, impulsiona e gera revolução. Não acredito em governos, que desgovernam os sonhos e emudecem os tambores do coração. Toda rota navega na rotatória ilusão de um encontro. A juventude não tem espelho e o abraço inflamatório da anti-cultura é o oxigênio que constrói o nada social em que nos habituamos a conviver diariamente.

Aprendi há algum tempo que o mundo tal qual visualizamos não passa de um conceito. É uma película de ficção onde fantasmas assustam e são assustados. É o homem entorpecido ausente da própria realidade. Toda a vida desvivida é composta de sobrevidas, alimentadas a conta gotas pelo sistema que doutrina o sonho de felicidade nas vitrines. Somos o que não somos, iludidos na milimétrica ilusão dos que acham que somos. Andamos nos passos descompassados de um modelo social egocêntrico, estranho, caduco e cheio de ampolas viciadas de desilusão. Toda angústia explode da reação alérgica da mentira, que nos acostumamos a buscar como a fonte luminosa de todos os desejos.

O homem moderno é o reflexo de suas necessidades. Este bicho sedutor que acorrenta as asas de cada pássaro, o mantendo num longamente distante da liberdade. O necessário de hoje é produzido nos laboratórios de anfetaminas, onde a sociedade subjugada se encontra submersa. É o tempo da ampulheta dos desejos revertida a todo instante. É o tempo da felicidade pré-fabricada, artificial e indigesta ao amanhecer. Somos a condução cega do trem bala a mil por hora, devorando antroporfagicamente nosso presente por um futuro desmaterializado de certezas. A mão danosa do consumo a apedrejar frágeis vidas. O soneto cruel dos governos e suas honrarias de ordem em desordem.

Já disse, não acredito em governos. Não acredito no sistema. Não acredito nos poderes. Em todos os lados só consigo vislumbrar a ameaçadora, profunda e escura caverna. Aquela que Platão um dia condenou por disseminar a ignorância e assassinar cruelmente a filosofia.

Um comentário:

Juliana Holanda disse...

Não só o homem moderno é o reflexo de suas necessidades. Os homens, em todos os tempos, foram esse reflexo. Em meio a essas necessidades pré-fabricadas, encontramos quem seja livre disso, livre de alma, livre de pensamento e livre com suas ações. Existe os que são diferentes...