Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Minha terra tinha palmeiras e cantava um sabiá

Não esqueço minha terra. Lá estão meus pais, irmã, sobrinhos... Tomando conta da vida e seguindo o verso trabalhoso de suas estórias. Lembro o que Nova Cruz poderia ter sido e não o é. Lembro das palmeiras verdes que secaram de dor e desamparo. Lembro das ruas, dos caminhos, das praças, que se tornaram sombras desesperadas do descaso doentio da ignorância. Lembro das escolas, das quadras, das luzes, que hoje refletem nitidamente “O Grito”, traçado amargamente na tela do pintor norueguês Edvard Munch.  

Hoje, minha terra olhada de frente mastiga com seus dentes cariados a sola do sapato das promessas do dia que não aconteceu. Caminha mendicante e as quedas, com muletas oxidadas impostas pelos lábios brutos da mentira propagada. Minha terra pede urgência na voz sem força dos desvalidos. Pede emergência no pesadelo enfermo dos sem saúde. Pede socorro no lápis sem tinta do estudante. Clama ajuda na fome nossa de cada dia. 

Minha terra apresenta diariamente ao trono: Sua prece, seu apelo, sua súplica, mas o volume ensurdecedor na mansão dos musgos não abre intervalo para a caridade.

Verdadeiramente na minha terra, o cântico do sabiá anda desentoado pela Amplitude Modulada do maestro decadente. Amarga no descompasso de um coral regente de insuficiência. E se perde nos acordes da orquestra que estraçalha a praça pública com seus instrumentos. Minha terra é maltratada, vilipendiada e usurpada. É molestada, torturada e atormentada. É Nova, para distribuir seu valioso mel. É Cruz, que depois o santo de barro fétido rejeita em um canto qualquer da estrada.

Na minha Nova Cruz não tem mais palmeiras, nem mesmo canta o sabiá. Minha Nova Cruz tem a sede dos futuros anunciados. Tem a fome das promessas esquecidas. Tem a necessidade coletiva. Minha Nova Cruz tem no concreto armado, na liberdade do ar e no pisar firme de suas ruas a força do seu povo, que não deve cantar de novo a canção viciada de indiferença, que marcha fluindo hipnoticamente, nas ondas sonoras do rádio.

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