Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 26 de novembro de 2016

Démodé



Sou este cara fora de moda.
Olhar comprido,
Camisa comprida,
Costeletas de refrão anos 50.
Meus motivos não são os seus motivos.
Não canto, grito.
Toco para esquecer onde estou.
Vivo mais longe do que perto.
E nego a opinião de linha de montagem.
Guardo o que maioria não quer.
Entendo mais de solidão do que de alegria.
Sou mais partida do que chegada.
Sou mais aceno do que aplauso.
Minha janela não tem flores
Mas o vento entra embaralhando os cabelos
E faz os papéis voarem.
Meus livros são repetitivos e cabem todos em três acordes.
Mando mensagens por telepatia
E me escondo em versos nublados cheios da umidade das galáxias.
Não aprendi a amar
E vivo a dicotomia do que tenho e do que quero dar.

Sou este cara fora do mainstream.
Cheio de noite o dia inteiro,
Cavaleiro do sol poente,
Dom Quixote sem moinhos de vento.
Meu argumento é dos pequenos.
Sou mais romântico do que realista.
Meus planos não são os seus planos.
Não bato, abro.
Minha gentileza é rouca para o mundo
Mas sei abraçar amigos em dias de palidez.
Estou mais em discos do que em CDs.
Quase posso tocar batons que partiram.
E desapareço na multidão de uma coisa só.
Visto-me de fim
E sigo a vida sem mochilas nas costas.
Só guardo o que não cabe em gavetas.
Sou meio riso rindo de tudo ao mesmo tempo agora.
Minha saudade é um livro de poemas serenado de vodca russa.
Não sei beijar.
Não sei aceitar o que é destino.
E envio cartas a quem não sabe ler cartas.

Sou este cara
Que você já viu.
Sou este cara
Que você não vê
Passando por você.

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