Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Em busca do silêncio

Deu boa tarde com orvalho nos olhos.
A vitrine molhada dava para a rua quase deserta.
Ela parecia feliz sem nenhuma companhia.
Pediu um café e a noite começava a se acomodar entre seus cabelos.
Ônibus iam e vinham em intervalos de tempo sincronizados.
Me olhou mais uma vez e tomei o azul do seu aceno em pequenos goles.

Me contou um último segredo.
Falava bem próximo
E seus lábios enviavam cartas despretensiosas de amor.
Tinha o hálito do hortelã que vinha do chiclete mascado lentamente.
Não contava saudades nem lamentos do que não deu para ser.
Era só e somente assim parecia feliz.

Leu um poema de Bandeira escrito num papel amassado de bolso.
Sorriu como um alívio da dor quando adormece.
Se mostrou linda novamente.
Levantou, deu as costas e antes abanou os cílios para mim.
Deixei-a ir sumindo entre a névoa de gotas cinzas que o inverno traz.
Até não mais vê-la em mim.

Parecia feliz,
Parecia leve sem nenhuma companhia.

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