Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 25 de maio de 2013

De Passagem


Não tive tempo de regar as flores.
O perfume do cigarro acesso competia com as sobras do batom.
Nesses dias a neblina do sol cai como plumas de cinza.
Nesses dias o silêncio é um cão indomado mastigando a ausência.
Se for, foi para nunca mais voltar.

E os pulsos entregues a guilhotina é a última página do diário.
E as juras ajoelhadas de eternidades cabem no limite de cada história.

Havia um vestido azul, eu lembro.
Uns trocados no bolso do jeans rasgado,
Uns sorrisos enxugando copos de cerveja,
Uns olhares convertendo as sombras do próprio planeta,
E os amigos...
Ah, os amigos...
(A amizade é para aqueles que não fazem cálculos matemáticos).

E os dias afastaram-se sorrateiros como longas noites de sereno.
E as manhãs nasceram dos analgésicos da sobrevida que goteja do mundo.

Não tive tempo de regar as flores.
A noite chegou quando ainda era dia.
Continuo o mesmo menino magro da fotografia.
Alertando nos fósforos riscados dos versos vesgos de todo o poema
Que o bom da vida é o permanecer da passagem.

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