Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 11 de maio de 2013

Cemitério de Sonhos


As lápides enfileiradas.
Cada cova com mais de sete palmos de frustração.
O pio soturno da coruja em plumas noturnas.
O sorriso desdentado do coveiro envelhecido.
A ruga, o óbito, o verme amolando o talher no subterrâneo.

Tem a máscara de cera despetalada pelo perfume das flores.
Tem a oração repetida no assombro do jardim do fim.

A noite desliza ao som suave do violino de orvalho.
O vício de pernas cruzadas traga ao vento seu cigarro de cannabis.
O esquife rangendo o sexo úmido da dama dos sortilégios.
Cada dia com sua vela derretida na taça da mais bela escuridão.
O portão, a tranca, o mundo de costas de volta para casa.

Não falta a sirene nem a visita dos que nunca visitaram.
Não falta o cortejo nem a mão dos que nunca deram a mão.

O silêncio vestido em branco conversa com a ventania.
O cipreste sombreia de galhos secos a luz que exala do luar.
A ferida morta retira a casca para bailar com o frio.
De sepultura a sepultura o sonho mastiga chiclete de menta.
Pá de cal, vala comum, corpos deitados com a mesma epidemia.

Agora a chuva que vem se lança no meio do mar.
Agora a borboleta voa de volta ao casulo da lagarta.

O céu é comprido demais ao alcance curto do sonho que só sonha.
Azul é o berço de analgésicos onde dorme a fé de joelhos.
A mortalha cobre muito mais a vida que a morte.
Este luto que rodeia o olhar é o medo do próprio acabar.
A areia, o chão, o eco nos poros da terra pedindo para não respirar.

Cemitério de sonhos.
O gozo derramado na trepada da vida que pede morte.

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