Pássaro Unitário

Pássaro Unitário

sábado, 27 de abril de 2013

Pés Descalços

Não me dê tua opção
Dê-me teu grito,
Teu escarro,
A lágrima mais salgada da tua treva.

Não me traga a grama do teu jardim.
Traga-me a praga que serena tuas flores,
Traga-me o verme que encolhe a beleza das cores,
O pólen estéril que a morte levou nos braços.

Não me oferte teu dia feliz.
Oferte-me o presente embrulhado nas sombras de tudo que não quis,
Oferte-me o futuro pirilampo sem luz de sonhar,
O soro que goteja impotente e terminal.

Não me doe nenhuma conta do teu perdão.
Doe-me a raiva algemada ao arrependimento,
Doe-me o vício que medicina não cura,
A mentira que colhe lâminas de ternura.

Não me apresente à leveza da tua sonata.
Deixe-me com o trovão dos teus dias de cão,
Deixe-me de pé no cadafalso da tua tuberculose,
Na linha de frente da seringa peçonhenta dos teus erros.

Não me venha com a beleza.
Largue-me o que te dói
Nos bolsos do meu jeans cansado
Da vida que indigesta ninguém quis.

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